Do livro A Sapinha Meiga (2007), de Regina Carvalho, ilustrado por Clovis Geyer Poema também publicado no livro O Sim da Poesia (1993), de Regina Carvalho
O saxofonista tenor Dexter Gordon interpreta no vídeo desta postagem What's New?, um clássico do jazz composto por Bob Haggart. A gravação foi feita para a TV holandesa no início dos anos 60 e conta com a participação de George Gruntz (piano), Guy Pedersen (contrabaixo) e Daniel Humair (bateria). No início Dexter fala os versos inciais da música, cuja letra completa, escrita por Johnny Burke, é apresentada a seguir.
What's New? Bob Haggart & Johnny Burke
What's new?
How is the world treating you?
You haven't changed a bit
You're lovely as ever, I must admit
What's new?
How did that romance come through?
We haven't met since then
Gee, but it's nice to see you again
What's new?
Probably I'm boring you
But seeing you is grand
And you were sweet to offer your hand
I understand. Adieu!
Pardon my asking what's new
Of course you couldn't know
I haven't changed, I still love you so
Longe Daqui, Aqui Mesmo Rita Lee e Roberto de Carvalho
Longe daqui, aqui mesmo
Tão longe daqui, aqui mesmo
No sinal vermelho
No topo da montanha
O delírio de estar vivo e simplesmente ser
Deixar-se levar pela correnteza
Na incerteza de avistar um farol
Desmaia a noite
Acorda o sol
Secam lágrimas de medo
Revela-se o segredo do escuro
O muro era apenas uma ponte
Entre a sede e a fonte
A morte não é mais do que mais um a menos...
Faz tempo que o Fábio Jr. e eu tínhamos 20 e poucos anos, mas como mencionaram essa música pra mim de já hoje, lá vai:
20 e Poucos Anos Fábio Jr.
Você já sabe
Me conhece muito bem
E eu sou capaz de ir e
Vou muito mais além
Do que você imagina...
Eu não desisto
Assim tão fácil meu amor
Das coisas que
Eu quero fazer
E ainda não fiz
Na vida tudo tem seu preço
Seu valor
E eu só quero dessa vida
É ser feliz
Eu não abro mão...
Nem por você
Nem por ninguém
Eu me desfaço
Dos meus planos
Quero saber bem mais
Que os meus 20
E poucos anos...(2x)
Tem gente ainda
Me esperando prá contar
As novidades que eu
Já canso de saber
Eu sei também
Tem gente me enganando
Ah! Ah!
Mas que bobagem
Já é tempo de crescer
Eu não abro mão...
Sou violeiro caminhando só, por uma estrada caminhando só
Sou uma estrada procurando só levar o povo pra cidade só
Parece um cordão sem ponta, pelo chão desenrolado
Rasgando tudo que encontra, a terra de lado a lado
Estrada de Sul a Norte, eu que passo, penso e peço
Notícias de toda sorte, de dias que eu não alcanço
De noites que eu desconheço, de amor, de vida e de morte
Eu que já corri o mundo cavalgando a terra nua
Tenho o peito mais profundo e a visão maior que a sua
Muita coisa tenho visto nos lugares onde eu passo
Mas cantando agora insisto neste aviso que ora faço
Não existe um só compasso pra contar o que eu assisto
Trago comigo uma viola só, para dizer uma palavra só
Para cantar o meu caminho só, porque sozinho vou a pé e pó
Guarde sempre na lembrança que esta estrada não é sua
Sua vista pouco alcança, mas a terra continua
Segue em frente, violeiro, que eu lhe dou a garantia
De que alguém passou primeiro na procura da alegria
Pois quem anda noite e dia sempre encontra um companheiro
Minha estrada, meu caminho, me responda de repente
Se eu aqui não vou sozinho, quem vai lá na minha frente?
Tanta gente, tão ligeiro, que eu até perdi a conta
Mas lhe afirmo, violeiro, fora a dor que a dor não conta
Fora a morte quando encontra, vai na frente um povo inteiro
Sou uma estrada procurando só levar o povo pra cidade só
Se meu destino é ter um rumo só, choro em meu pranto é pau, é pedra, é pó
Se esse rumo assim foi feito, sem aprumo e sem destino
Saio fora desse leito, desafio e desafino
Mudo a sorte do meu canto, mudo o Norte dessa estrada
Em meu povo não há santo, não há força e não há forte
Não há morte, não há nada que me faça sofrer tanto
Vai, violeiro, me leva pra outro lugar
Que eu também quero um dia poder levar
Tanta gente que virá
Caminhando, procurando
Na certeza de encontrar
Nosso amor passou eu sei
No princípio eu não quis acreditar
Chorei
Mas, depois eu tive que me conformar
Me conformei
A realidade foi maior
Aprendi nessa dor
A mágoa não compensa
E o orgulho é mais cruel
Que toda a indiferença
Pode acreditar, mulher
Nosso amor foi lindo
Como um carnaval qualquer
Que se acaba
E faz um novo dia a dia acontecer
Tão difícil assim como viver
Até um dia em que vem
Reacender alegrias e salões
Nós, os foliões
Nossas alegorias
Tão esperado e se foi
Tão colorido e lá vai
Perdendo a cor o carnaval do nosso amor
Vídeo Sidney Miller
Áudio Paulinho da Viola (introdução: Sidney Miller)
Onde a Dor Não Tem Razão Elton Medeiros e Paulinho da Viola
Canto
Pra dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranquilo
Onde a dor não tem razão
Nele a semente de um novo amor nasceu
Livre de todo rancor, em flor se abriu
Venho reabrir as janelas da vida
E cantar como jamais cantei
Esta felicidade ainda
Quem esperou, como eu, por um novo carinho
E viveu tão sozinho
Tem que agradecer
Quando consegue do peito tirar um espinho
É que a velha esperança
Já não pode morrer
Minha sobrinha, Luiza Normey, acabou de chegar de um intercâmbio de quatro meses em Santa Fé, na Argentina. Lá ela conheceu, enfim, muita música brasileira, interpretada por grupos locais, que pelo visto adoram nossa matéria-prima, talvez mais que os próprios hermanos brasileños! Mas essa postagem é para mostrar o vídeo em que ela dirigiu e filmou os amigos intercambistas, de várias nacionalidades, da pensão onde ficou. A trilha sonora escolhida é, segunda ela, uma dessas músicas que não paravam de tocar nas festinhas de lá (e parece que toca aqui também segundo depoimento do meu outro sobrinho) e que ela escolheu justamente para fazer uma lembrança divertida aos amigos dos dias em Santa Fé. Segue a letra da música, bilíngue español - português, interpretada por Don Omar, um cantor porto-riquenho de reggaeton, uma mistura de reggae jamaicano e hip hop, com outras influências tais como a salsa. E segue também o vídeo da Lu.
Danza Kuduro Don Omar
A&X
El Orfanato
Danza Kuduro (Plop, Plop, Plop...)
Lucenzo
El Rey...!
La Mano Arriba
Cintura Sola
Da Media Vuelta
Danza Kuduro
No Te Canses Ahora
Que Esto Sólo Empieza
Mueve La Cabeza
Danza Kuduro
La Mano Arriba
Cintura Sola
Da Media Vuelta
Danza Kuduro
No Te Canses Ahora
Que Esto Sólo Empieza
Mueve La Cabeza
Danza Kuduro
Quien Puede Domar La Fuerza Del Mal Que Se Mete Por Tus Venas
Lo Caliente Del Sol Que Se Te Metió Y No Te Deja Quieta, Nena
Quien Puede Parar Eso Que Al Bailar Descontrola Tus Caderas (Sexy...!)
Y Ese Fuego Que Quema Por Dentro Y Lento, Te Convierte En Fiera
Con La Mano Arriba
Cintura Sola
Da Media Vuelta
Sacude Duro
No Te Quites Ahora
Que Esto Sólo Empieza
Mueve La Cabeza
Sacude Duro
Balançar que é uma loucura
Morena vem o meu lado
Ninguém vai ficar parado
Quero ver mexe Kuduro
Balançar que é uma loucura
Morena vem o meu lado
Ninguém vai ficar parado
Oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi...
Vem para quebrar Kuduro, vamos dançar Kuduro
Oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi...
Ta issa morena o loira vem balançar Kuduro
Oi, oi, oi...
La Mano Arriba
Cintura Sola
Da Media Vuelta
Danza Kuduro
No Te Canses Ahora
Que Esto Sólo Empieza
Mueve La Cabeza
Danza Kuduro
Ao postar O Dia da Criação, de Vinicius de Moraes, me lembrei que o verso "A vida vem em ondas, como o mar" foi citado por Nelson Motta na letra de Como Uma Onda. Segue, então, a letra e o áudio com Lulu Santos, coautor da canção, interpretando-a.
Como Uma Onda Lulu Santos e Nelson Motta
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas, como o mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas
em queda invisível na
terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda
e missa de
sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das
águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Áudio Vinicius de Moraes, Quarteto em Cy e o Conjunto Oscar Castro Neves (part. Dorival Caymmi), do álbum Vinicius/Caymmi no Zum Zum (1965)
Áudio Vinicius de Moraes (leitura do poema na íntegra)
A cantora portuguesa Eugénia Melo e Castro (voz) e Toninho Horta (violões) interpretam Emissário de um Rei Desconhecido, poema de Fernando Pessoa que Milton Nascimento musicou para o projeto A Música em Pessoa, LP lançado em 1985 com poemas do autor português transformados em canções por Tom Jobim, Edu Lobo, Sueli Costa, Dori Caymmi, Arrigo Barnabé, dentre outros, além do Bituca.
Emissário de um Rei Desconhecido
(Passos da Cruz XIII) Poema de Fernando Pessoa musicado por Milton Nascimento
Emissário de um Rei desconhecido,
Eu cumpro informes instruções de além,
E as bruscas frases que aos meus lábios vêm
Soam-me a um outro e anômalo sentido...
Inconscientemente me divido
Entre mim e a missão que o meu ser tem,
E a glória do meu Rei dá-me desdém
Por este humano povo entre quem lido...
Não sei se existe o Rei que me mandou.
Minha missão será eu a esquecer,
Meu orgulho o deserto em que em mim estou...
Mas ah, Eu sinto-me altas tradições
De antes de tempo e espaço e vida e ser...
Já viram Deus as minhas sensações...
Áudio Eugénia Melo e Castro e Toninho Horta (também aqui)
A compositora e cantora Sueli Costa musicou o poema Segue o Teu Destino, de Ricardo Reis, mais um dos heterônimos de Fernando Pessoa, cujo cinquentenário de morte foi celebrado no projeto do álbum A Música em Pessoa, em 1985. Nessa faixa participam Nana caymmi (voz), Dori Caymmi (violão e arranjo), Gilson Peranzzetta (piano), Luís Alves (contrabaixo) e uma orquestra de cordas.
Segue o Teu Destino Sueli Costa sobre poema de Ricardo Reis
Segue o teu destino
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
Suave é viver só
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues
A resposta está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Na Ribeira Deste Rio, poema de Fernando Pessoa, foi musicado por Dori Caymmi para o disco A Música em Pessoa, de 1985 (ver postagem anterior ou aqui). A gravação, interpretada (voz e violão), arranjada e regida pelo próprio Dori, conta com a participação de Gilson Peranzzetta (piano Yamaha) e Luís Alves (contrabaixo).
Na Ribeira Deste Rio Poema de Fernando Pessoa musicado por Dori Caymmi
Na ribeira deste rio
Ou na riveira daquele
Passam meus dias a fio.
Nada me impede, me impele
Me dá calor ou dá frio.
Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada.
Vejo os rastros que ele traz,
Numa sequência arrastada,
do que ficou para trás.
Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.
Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali,
E do seu curso me fio,
Porque, se o vi ou não vi,
Ele passa e eu confio.
O português Fernando Pessoa realizou uma das produções literárias mais fascinantes na minha opinião ao se fragmentar em vários eus, seus heterônimos e semi-heterônimos. Em 1985 Elisa Byington e Olivia Hime produziram o LP intitulado A Música em Pessoa, com poemas do escritor português musicados e interpretados por vários compositores, músicos, cantores e atores, dentre eles Tom Jobim, que musicou o ótimo poema O Tejo É Mais Belo, do heterônimo Alberto Caeiro, de cuja poesia também gosto muito. A seguir apresento a letra do poema e o áudio com a gravação do próprio Tom (piano e voz), que lhe modificou o título para O Rio da Minha Aldeia. O arranjo é de Paulo Jobim e há a participação de uma orquestra de cordas (violinos, violas e cellos). Outras faixas do disco serão postadas durante esta semana.
O Rio da Minha Aldeia Poema de Alberto Caeiro, musicado por Tom Jobim
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
João Bosco: 65 anos! A transcrição da letra por Regina Carvalho foi obtida aqui.
Bate um Balaio ou Rockson do Pandeiro João Bosco
Derrê derreí
Derrê derreí
Ô Carolina hum ô Carolina hum hum hum
Ô Carolina hum, ô Carolina hum hum hum
Ô zabulon lun bate um balaio
Quero é mandacaru
Ô zabulon lun bate um lubaio
Quero é mandacaru
Ô zabulon lun bate um balaio
Quero é mandacaru
Ô zabulon lun bate um lubaio
Quero é mandacaru
Aguiri guiri guiri rarulê
Azingulaga do balaio
Dungulaga dulon
Ô zabulon nocim dubabulu
Azingulaga do balaio dungulaga dulon
Ô zabulon nocim dubabulê
Azingulaba du balaio dungulaba dulon
Ô cabulon ducim du babalu
Zingulaba du balaio dungulaba dubon
Ô cara dubon (do bom)
Ô cabra dubon
Ô cabra dubon
Ô cabra dubon
Ô cabra dubon
Ô cabra dubon iéá
A - é - i - ó - u - ipsilon - lon - lon - lon
A - é - i - ó - u - ipsilon - lon - lon - lon
Vídeo João Bosco, Cesar Camargo Mariano e Nico Assumpção
A transcrição das letras por Regina Carvalho foi obtida aqui. Notem que João cita duas composições do álbum Clementina de Jesus - Convidado Especial: Carlos Cachaça, de 1976 (no qual Quelé gravou Incompatibilidade de Gênios, de João Bosco e Aldir Blanc): Ajoelha (Batelão e Silvio) e Carreiro Bebe? (arranjo e adaptação Clementina de Jesus). Nesse mesmo disco há também Ingenuidade (Serafim Adriano), que João gravou no seu CD Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo no Chão, de 2009. Cabeça de Nego e João Balaio foram lançadas no disco Cabeça de Nego, de 1986.
Cabeça de Nego João Bosco
Cacurucai eu tô
Perrengando tô
De Aniceto é o jongo
Ô Donga Sinhô
Ô Sinhô Dongá
É gagabirô
Gagabirá
Cadá zumbambulalá
Cadá zumbambulelê
Cada zumbambuliuli
Cubá cubá iê
Ô zimba cubá cubá
Ô zimba cubão
Ô zimba cubá cubá
Hum ô zimbacu iê
Ô João da bahiana
Ô Candeia Lê uh
Ô Mãe Quelé Mãe
O iá Quelé Mãe
Ô Clementina
Ô iaopi
Ô piaoxi
O iaoxi
Ô Pixinguinha ié
Ô Batista de Fá
Ô ária de Bach
Choro de Paulo da Viola ié
Ô zimba cubá
Ô zimba cubão
É Silas de Oliveira Assunção
Ô zig digubá
Dum zig digubá ah
Som pirão som pirão
Joelha joelha
Joelha e me peça perdão
Joelha
Joelha ô
Joelha
Joelha e me peça perdão
Joelha
Taruntá mininu
Rirriri taruntá
Taruntá mininu
Nustacacá ê
Oi cavucá mininu
Oi cavucá
Nusritatá
Io gostá de taruntá
Io gostá de taruntá
Carrero bebe
Candiero também bebe
Sinhô mando dizê
Que não ensina boi bebê
Som pirão som pirão
Som pirão som pirão
Som pirão
Carrero bebe
Candiero também bebe
Sinhô mando dizer
Que não ensina boi bebê
Solidão e liberdade
Soledade uma paixão
Que adio sine die
Por ter não
Essa tal razão
Que vem com a idade
Que vem da felicidade
Que vem de outra ilusão
Doida vez por outra
Mesmo doida
Por não ter o que fazer
Com esse indeciso coração
Fico assim
Sem saber
Quem saber terá
Pra me dizer
Pois a vida diz
Que não tem tempo
Que o amor é coisa de momento
É quando rola um turbilhão
Todo coração tem movimento
O que pra mim
Já é uma intenção
Vila
Em teus índios achei a cor
Meu coração pintou Moema
Vila
De teus vícios nasci tição
Brasa que acende o amor na canção
Ilusão é o teu nome
Em teus sinos chamei, chamei
Baladas procurei a paixão
Peço aqui
Pra ela estar
Sempre no meu lar
Música, Música
Sempre no meu lar
Se alguém quer brincar de amor
O amor falseia
O amor que a morena dá
Vareia...
Taí uma das minhas favoritas do João Bosco! Bem que ele podia reinclui-la nos shows...
Das Dores de Oratórios João Bosco
"Porque o amor é como fogo,
Se rompe a chama
Não há mais remédio"
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Se amasiou com a tal solidão do lugar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só pecou nas noites de sonho ao gozar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só ficou só
Ele a deixou
Só ficará... hum! Foi por amar!
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Noiva que um andor podia carregar.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Dor que a própria dor de Das Dores será.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Não virá?
Não.
Ele virá...
Não, não virá... hum! Foi no altar
Era um lugar
Era iô iô iô
Salvador Maria de Antonio e Pilar.
Era um lugar
Era iô iô iô
Seixo que gastou de tanto esperar.
Louca a gritar
Ela iô iô iô
Esquecer, quem há de esquecer
O sol dessa tarde... hum! Sol a gritar.
João Bosco completa hoje 65 anos: Parabéns! (ouça o podcast da Radioagência Nacional aqui)
Jade João Bosco
Aqui meu irmão
Ela é coisa rara de ver
É joia do Xá
Retina de um mar
De olhar verde já derramante
- Abriu-se Sézamo em mim!
Ah, meu irmão
Áqualouca tara que tem ímã
Mergulha no ar
Me arrasta, me atrai
Pro fundo do oceano que dá
Pra lá de Babá
Pra cá de Ali...
Pedra que lasca seu brilho
E queima no lábio
Um quilate de mel
E que deixa na boca melante
Um gosto de língua no céu
Luz, talismã
Misterioso Cubanacã
Delícia sensual de maçã
Saborosa manhã
Vou te eleger
Vou me despejar de prazer
Essa noite o que mais quero é ser
Mil e um pra você
Jade
Se o senhor não tá lembrado
Dá licença de contar
Ali onde agora está esse edifício arto
Era uma casa velha, um palacete assobradado
Foi ali, seu moço
Que eu, Matogrosso e o Joca
Construímo nossa maloca
Mas um dia, nós nem pode se alembrar
Veio os homem com as ferramenta
O dono mandou derrubar
Peguemo todas nossas coisa
E fumo pro meio da rua
Apreciar a demolição
Que tristeza que nós sentia
Cada tauba que caía doía no coração
Matogrosso quis gritar
Mas em cima eu falei:
“Os homem tá com a razão
Nós arranja outro lugar”
Só se conformemo quando o Joca falou:
“Deus dá o frio conforme o cobertor”
E hoje nós pega as paia nas grama do jardim
E pra esquecer, nós cantemo assim:
“Saudosa maloca, maloca querida
Que dindonde nós passemo
Dias feliz da nossa vida”
Iracema, eu nunca mais que te vi
Iracema meu grande amor foi embora
Chorei, eu chorei de dor porque
Iracema, meu grande amor foi você
Iracema, eu sempre dizia
Cuidado ao travessar essas ruas
Eu falava, mas você não me escutava não
Iracema você travessou contra mão
E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato.
- Iracema, fartavam vinte dias pra o nosso casamento
Que nóis ia se casar
Você atravessou a São João
Veio um carro, te pega e te pincha no chão
Você foi para Assistência, Iracema
O chofer não teve curpa, Iracema
Paciência, Iracema, paciência
E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato
Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã.
Além disso, mulher
Tem outra coisa,
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar,
Sou filho único
Tenho minha casa para olhar
E eu não posso ficar
Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói
A manhã desejada
Aquele que sabe que é mesmo o coro da gente
E segura a batida da vida
O ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda
Se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha e entra no botequim
Pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta
E faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
(Nós estamos pelaí)
Acreditava na vida
Na alegria de ser
Nas coisas do coração
Nas mãos um muito fazer
Sentava bem lá no alto
Pivete olhando a cidade
Sentindo o cheiro do asfalto
Desceu por necessidade
O Dina
Teu menino desceu o São Carlos
Pegou um sonho e partiu
Pensava que era um guerreiro
Com terras e gente a conquistar
Havia um fogo em seus olhos
Um fogo de não se apagar
Diz lá pra Dina que eu volto
Que seu guri não fugiu
Só quis saber como é
Qual é
Perna no mundo sumiu
E hoje
Depois de tantas batalhas
A lama dos sapatos
É a medalha
Que ele tem pra mostrar
Passado
É um pé no chão e um sabiá
Presente
É a porta aberta
E futuro é o que virá, mas, e daí?
ô ô ô e á
O moleque acabou de chegar
ô ô ô e á
Nessa cama é que eu quero sonhar
ô ô ô e á
Amanhã bato a perna no mundo
ô ô ô e á
É que o mundo é que é meu lugar
Certo dia fui levado
A um samba diferente
Entre a gente da gravata e do plastrom, ai, ai
Bebida servida em taça
Champanhe em vez de cachaça
Mesmo assim o samba lá é bom
Eu vi muita grã-fina bonita rebolando
Sambando, sambando
Não sabia que as distintas eram assim
Se eu soubesse também como era o ambiente
Decente
Jogava um pano legal
Por cima de mim
Samba triste
A gente faz assim:
Eu aqui
Você longe de mim, de mim
Alguém se vai
Saudade vem
E fica perto
Saudade, resto de amor
De amor que não deu certo
Samba triste
Que antes eu não fiz
Só porque
Eu sempre fui feliz, feliz, feliz, feliz
Agora eu sei
Que toda vez que o amor existe
Há sempre um samba triste, meu bem
Samba que vem
De você, amor
Preciso Dizer Que Te Amo Cazuza, Dé e Bebel Gilberto
Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo
Tanto
E até o tempo passa arrastado
Só pr’eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser seu amigo
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo, tanto
Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando cada gesto teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira
Todo o Amor Que Houver Nesta Vida Cazuza e Roberto Frejat
Eu quero a sorte de um amor tranquilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a sua fonte escondida
Te alcance em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão, e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
Chocolate! Chocolate! Chocolate!
Eu só quero chocolate
Só quero chocolate
Não adianta vir com Guaraná
Pra mim é chocolate
O que eu quero beber...
Não quero chá
Não quero café
Não quero Coca-Cola
Me liguei no chocolate
Só quero chocolate
Não adianta vir com Guaraná
Pra mim é chocolate
Que eu quero beber...
Chocolate! Chocolate! Chocolate!
- O senhor aceita um cafezinho?
- Não, eu quero é chocolate!!!
Todo o Sentimento Cristóvão Bastos e Chico Buarque
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu
Áudio Verônica Sabino (voz) e J. Moraes (teclados e arranjo)
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as asas pintadas
Que tem as unhas pintadas
Que passa horas a fio
No espelho do toucador
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra as esporas
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Não tenha medo, amigo
Não tenha medo
É
Como falou o poetinha Vinicius
"São demais os perigos dessa vida"
Mas o sangue borbulha nas veias
E eu tenho que andar na rua
Gosto de enfrentar o mundo cara-a-cara
Olhar as pessoas no olho
Tenho que estar nos botequins, nas favelas
Nos palcos, nas plateias
Nos campos, nas cidades, nos sertões
Aqui e acolá, como gente
Pés no chão, no meio do povo
Cautelosamente sem cautela
Receiosamente sem receio
Distraidamente distraído
Mas sem medo
Não tenha medo, meu amigo, não tenha medo
Porque o medo é o seu maior inimigo
Admiro medrosos sem medo
Detesto valentes
De heróis desconfio
Do mundo eu não tenho medo
Mas viver a vida é um desafio
Não tenha medo
Não tenha medo, amigo
É, amigo
A vida é um segmento de reta sinuoso
Um vai e vem
Todo mundo tem que ser viandante
Pois "barco parado não faz frete"
- Tá lá nos caminhões
Fé em deus e pé na tábua
Seguindo o destino
Moldando o destino, transando com ele
Sem medo do que você tem e do que você pode ter
Do que você é e do que você será
Vá em frente amigo
Amando a mulher amada
Dando amor a muitas mulheres
Caminhando em busca do infinito
Sem mitos, sem metas
Sem medo
Não tenha medo
Porque o medo é o seu maior inimigo
Não tenha medo de ficar doente
De ser impotente
Ou de levar um chifre
Confie no amor da amante
E na honestidade da mulher de casa
Não é mais tempo do duelo nobre
Ou de lavar a honra com florete ou sabre
Não tenha medo do clamor divino
E nem do capeta e seu inferno em brasa
O amor
É um falso brilhante
No dedo da debutante
O amor
É um disparate.
Na mala do mascate
Macacos tocam tambor.
O amor
É um mascarado:
A patada da fera
Na cara do domador.
O amor
Sempre foi o causador
Da queda da trapezista
Pelo motociclista
Do globo da morte.
O amor é de morte.
Faz a odalisca atear fogo às vestes
E o dominó beber águarras.
O amor é demais.
Me fez pintar os cabelos,
Me fez dobrar os joelhos,
Me faz tirar coelhos
Da cartola surrada da esperança.
O amor é uma criança.
E mesmo diante da hora fatal
O amor
Me dará forças
Pro grito de carnaval,
Pro canto do cisne,
Pra gargalhada final.
Pequeno Circo Íntimo Ivan Lins, Aldir Blanc e Paulo Emilio
Fiz essa canção
Pelo tesão que o anão
Sentia na mulher barbada.
Pelo domador
Que violou a Menina das aves
Na jaula dos animais.
Pelo espectador
E o Tatuado
Que morreram de mãos dadas
Num pacto entre anormais.
Fiz essa canção
Pela solidão
E a tristeza do palhaço.
Eis minha canção
Pela equilibrista
Que, lá em cima,
Perde o passo...
Para a bilheteira
Que bebe estricnina
Pela moça dos balões.
Todo o meu amor
Para o homem-bala
Atirado nos leões
Fiz essa canção
Pra contorcionista
Que padece da coluna
Pro engolidor de fogo
Cheio de bronquite
Que, no escuro, ainda fuma...
Pro ilusionista
Que se enforcou na estola
E viu na cartola o mar...
Pro atirador
Que voltou a faca
Contra a própria jugular
Bordei essa canção
Com o paetê
Que há no lixo aonde as glórias
Renascem: memórias
Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver o circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro e qualidade
Corre, corre, minha gente que é preciso ser esperto
Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto
Mas no meio da folia, noite alta, céu aberto
Sopra o vento que protesta, cai no teto, rompe a lona
Pra que a lua de carona também possa ver a festa
Bem me lembro o trapezista que mortal era seu salto
Balançando lá no alto parecia de brinquedo
Mas fazia tanto medo que o Zezinho do Trombone
De renome consagrado esquecia o próprio nome
E abraçava o microfone pra tocar o seu dobrado
Faço versos pro palhaço que na vida já foi tudo
Foi soldado, carpinteiro, seresteiro e vagabundo
Sem juízo e sem juízo fez feliz a todo mundo
Mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria
Todo encanto do sorriso que seu povo não sorria
De chicote e cara feia domador fica mais forte
Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte
Terminando seu batente de repente a fera some
Domador que era valente noutras feras se consome
Seu amor indiferente, sua vida e sua fome
Fala o fole da sanfona, fala a flauta pequenina
Que o melhor vai vir agora que desponta a bailarina
Que o seu corpo é de senhora, que seu rosto é de menina
Quem chorava já não chora, quem cantava desafina
Porque a dança só termina quando a noite for embora
Vai, vai, vai terminar a brincadeira
Que a charanga tocou a noite inteira
Morre o circo, renasce na lembrança
Foi-se embora e eu ainda era criança
Todo mundo vai ao circo
Menos eu, menos eu.
Como pagar ingresso,
Se eu não tenho nada?
Fico de fora escutando a gargalhada!
A minha vida é um circo,
Sou acrobata na raça.
Só não posso é ser palhaço,
Porque eu vivo sem graça